Plantas - um poderoso modificador de solo
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20 agosto, 2025

Plantas - um poderoso modificador de solo

Descubra como diferentes plantas de cobertura alteram pH, V%, potássio e fósforo do solo segundo o trabalho de Correia & Durigan (2008).

Plantas de Cobertura e Ferticorreção: Evidências do Potencial de Transformação do Solo

O estudo de Correia & Durigan (2008) avaliou diferentes espécies de plantas de cobertura em sistema soja e demonstrou que, após duas safras, já havia diferenças significativas nos atributos químicos do solo, como pH, saturação por bases (V%), teores de potássio e fósforo. Esses resultados são particularmente relevantes, pois reforçam a ideia de que as plantas não apenas respondem às condições do meio, mas possuem a capacidade de modificá-lo para criar um ambiente mais favorável ao seu próprio desenvolvimento e podendo até afetar a cultura subsequente.

Essa constatação amplia a compreensão do manejo agrícola: o solo não deve ser visto apenas como suporte físico-químico, mas como um ambiente dinâmico, em que as interações entre plantas, microrganismos e atributos químicos determinam a eficiência nutricional e a produtividade do sistema produtivo.

Nos gráficos abaixo é possível verificar essas interações entre as plantas de cobertura e os atributos químicos do solo:

 

Gráfico 1 – Níveis de K em relação as diferentes plantas de cobertura de solo coletado antes e depois do experimento.

Gráfico, Gráfico de cascata

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O potássio foi um dos nutrientes que mais apresentou variação entre as coberturas. Algumas espécies, especialmente gramíneas, mostraram maior capacidade de mobilizar K de camadas profundas e liberá-lo na palhada após a decomposição. Outras, porém, apresentaram consumo mais acentuado sem retorno equivalente, resultando em níveis mais baixos no solo. Isso reforça o papel estratégico de selecionar plantas recicladoras de K, que reduzem a necessidade de adubação potássica na safra seguinte.

 

Gráfico 2 – V% em relação as diferentes plantas de cobertura de solo coletado antes e depois do experimento.

Gráfico, Gráfico de cascata

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O V% apresentou comportamento mais distinto ao gráfico do K, reforçando a ideia de que plantas diferentes influenciam de forma distinta o balanço de cátions no solo. Espécies com raízes mais profundas, como gramíneas, tendem a reciclar cálcio e magnésio, aumentando a saturação por bases em camadas superficiais. Já outras coberturas mostraram queda nesse índice, possivelmente por maior absorção de bases sem reciclagem eficiente. Ou ainda, algumas plantas tem maiores necessidades nutricionais de cálcio e magnésio, absorvendo quantidades significativas. Porém, valeu analisar que após a decomposição dessas plantas de cobertura, o Ca e o Mg irão retornar ao solo. Porém, o tempo de decomposição é influenciada por uma série de fatores (temperatura, umidade, microbiologia, relação C/N).

 

Gráfico 3 – Valores de pH (em água) em relação as diferentes plantas de cobertura de solo coletado antes e depois do experimento.

Gráfico, Gráfico de cascata

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O gráfico evidencia diferenças expressivas no pH entre áreas cultivadas com distintas coberturas. Em algumas espécies, o pH foi mantido em níveis próximos ao inicial, enquanto em outras houve tendência de queda, indicando acidificação mais acelerada. Isso sugere que determinados tipos de plantas podem intensificar a exsudação de ácidos orgânicos ou favorecer a absorção desbalanceada de cátions e ânions, alterando o equilíbrio do solo. Esse efeito está diretamente relacionado ao manejo da acidez e à necessidade de controlar a acidez.

 

Gráfico 4 – Valores de P em relação as diferentes plantas de cobertura de solo coletado antes e depois do experimento.

Gráfico, Gráfico de cascata

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O fósforo, normalmente pouco disponível nos solos tropicais, também variou conforme a espécie de cobertura. Em determinados tratamentos, os teores aumentaram, indicando que a planta exerceu efeito positivo na solubilização e reciclagem do nutriente. Isso ocorre tanto pelo efeito radicular (liberação de exsudatos ácidos) quanto pela associação com microrganismos solubilizadores e micorrizas. Já em outras espécies, os níveis de P permaneceram estáveis ou até decresceram, evidenciando a importância de entender a interação espécie–solo–microrganismos

 

O potencial das plantas em transformar o ambiente

As plantas de cobertura exercem um papel ativo na alteração da rizosfera. Por meio da liberação de exsudatos, modificam o pH local, favorecem microrganismos específicos e influenciam a dinâmica de nutrientes. Essas alterações se refletem nos gráficos de pH e V%, que variam de acordo com a espécie cultivada anteriormente. O ponto central é compreender que a planta não é apenas usuária do ambiente, mas agente de transformação.

Diferenças entre espécies e interações distintas

Cada grupo de plantas apresenta estratégias fisiológicas e radiculares que explicam os contrastes observados:

  • Gramíneas: destacam-se pela capacidade de reciclar nutrientes de camadas profundas e acumular grande quantidade de biomassa, contribuindo para maior cobertura do solo e aumento da matéria orgânica.
  • Leguminosas: além da fixação biológica do nitrogênio, liberam exsudatos que estimulam a solubilização de fósforo e a atividade de microrganismos associados à ciclagem de nutrientes.

Essas diferenças explicam a variação nos teores de potássio e fósforo nos gráficos: enquanto algumas espécies apenas mantêm níveis semelhantes aos do início do experimento, outras conseguem aumentar a disponibilidade desses elementos, beneficiando diretamente a cultura subsequente.

 

Importância do conhecimento sobre o comportamento das culturas

O comportamento diferencial das espécies mostra a necessidade do agricultor conhecer não apenas a demanda nutricional da cultura principal, mas também como as plantas de cobertura interagem com todo os atributos do solo. A ausência dessa compreensão e a falta de informações levam a sistemas simplificados, menos resilientes, menos produtivos, mais caros e dependentes de adubações externas. Em contrapartida, a diversificação amplia as interações radiculares, promove maior atividade microbiana e favorece a estabilidade química e física do solo, resultando em terras mais econômicas e sustentáveis. 

 

Rotação de culturas e sustentabilidade

Os gráficos analisados demonstram que a simples alternância de espécies já é capaz de gerar efeitos expressivos nos atributos do solo. A rotação de culturas, quando bem planejada, acumula efeitos positivos, como o aumento da disponibilidade de fósforo, a melhoria da relação cálcio/magnésio/potássio e a manutenção do pH em faixas adequadas. Trata-se, portanto, de uma estratégia de fertilidade de médio e longo prazo, que reduz custos e diminui a dependência de insumos externos.

 

Economia e eficiência pelo uso de plantas recicladoras

Um dos pontos mais relevantes é a economia financeira associada ao uso de plantas recicladoras de nutrientes. Ao trazer potássio das camadas profundas ou liberar fósforo retido em formas pouco disponíveis, essas espécies diminuem a necessidade de aplicações adicionais de fertilizantes. Além do impacto econômico direto, há o benefício ambiental: menor risco de perdas por lixiviação e menor emissão de gases relacionados ao uso excessivo de insumos químicos.

 

Ferticorreção como elo integrador

Os resultados apresentados por Correia & Durigan (2008) evidenciam que a escolha da planta de cobertura não deve ser vista apenas como prática de proteção do solo, mas como uma ferramenta estratégica de manejo da fertilidade. Essa constatação dialoga diretamente com os princípios da Ferticorreção, que busca o equilíbrio dos atributos químicos de solo, considerando não apenas o ajuste de acidez, mas também a interação com a biologia e a física do ambiente.

A integração entre plantas de cobertura, rotação de culturas e ferticorreção oferece ao agricultor um caminho sustentável para alcançar produtividade elevada, reduzir custos com adubação e construir sistemas agrícolas mais resilientes. Mais do que uma técnica, trata-se de uma mudança de paradigma: compreender o solo como um sistema vivo, em constante transformação, no qual as plantas são protagonistas e não meras coadjuvantes

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