Auto tamponamento dos carbonatos
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16 maio, 2025

Auto tamponamento dos carbonatos

O auto tamponamento dos carbonatos impede o aumento do pH, sendo necessário doses elevadas que, economicamente, são desfavoráveis para o produtor.

A acidez é uma característica natural dos solos brasileiros e manifesta-se pela presença de íons hidrogênio (H+) e alumínio (Al3+), além da insuficiência de bases trocáveis como cálcio (Ca2+), magnésio (Mg2+) e potássio (K+), o que dificulta o crescimento das plantas e compromete produtividade e rentabilidade. É expressa na medida de pH, sendo 0-6 ácido, 7 neutro e 8-14 básico. No solo, as maiorias das culturas agrícolas, preferem pH em torno de 6,5 (pH em água)

Outro problema que temos em solos com acidez é a baixa eficiência das adubações realizadas, como é o caso do fósforo que pode ter sua absorção comprometida em até 70%, ou seja, de 100kg de fósforo investidos na terra, apenas 30kg são aproveitados pela planta. 

Para neutralizar os íons de hidrogênio é necessário aplicar corretivos de acidez. Comumente usa-se calcário (carbonato CaCO3 e MgCO3), pois é um insumo conhecido, relativamente barato e que encontramos em abundancia, principalmente no Brasil, não havendo necessidade de importação e dependência do mercado externo. Há registros do uso de calcário datados de mais de 10.000 anos, sendo utilizado inicialmente em construções e na agricultura, ainda de forma rudimentar e empírica, no início do século XX. 

Naturalmente os solos brasileiros são ácidos e em áreas de abertura ou reforma, onde a acidez é um impeditivo para o desenvolvimento vegetal e os investimentos iniciais necessitam de cautela, o calcário é, certamente, a melhor opção para suprir as necessidades agrícolas.  E na hora da escolha do calcário, alguns pontos devem ser levados em conta:

- Concentração de cálcio e magnésio: os teores de Ca e Mg podem ser diferentes conforme a origem da rocha

- PN: potencial capacidade em neutralizar a acidez do solo;

- Granulometria: calcários mais finos reagem mais rapidamente;

A aplicação do calcário faz com que hidroxilas (OH-) sejam liberadas no solo e neutralizem os íons de H+, formando H2O, elevando o pH e melhorando o ambiente de produção. Porém, além das altas doses e da necessidade de incorporação, o calcário apresenta um contraponto na hora de utilização que é o auto tamponamento. Ou seja, chega um momento em que o calcário não irá mais reagir no solo, não tendo mais dissociação de hidroxilas. Isso faz com que o pH do solo se mantenha estável, mesmo com altas doses. O mesmo serve para a liberação de cálcio e magnésio, presentes no carbonato.

Esse tamponamento, em água, é mais mensurável, sendo atingido em pH 5,5. No solo isso pode variar de acordo com a mineralogia, teor de matéria orgânica, substâncias químicas presentes, teor de argila e outros fatores químicos, físicos e biológicos. 

O solo também tem seu poder tampão, que é a capacidade que o solo possui de resistir às variações de pH quando ácidos ou bases são adicionados ao sistema. Esse poder tampão é fundamental para manter o ambiente do solo estável para o desenvolvimento das plantas, pois evita mudanças bruscas na acidez ou alcalinidade, que podem afetar a disponibilidade de nutrientes, a atividade microbiológica e a saúde geral do solo.

Isso explica o motivo da adoção de uma pratica que vem se tornando comum: a super calagem. São aplicadas altas doses de calcário, maiores que a recomendação baseada na análise, para romper o poder tampão do solo, porém, torna-se economicamente inviável, além de tornar os processos de aplicação mais difíceis. A super calagem também pode indisponibilizar nutrientes, principalmente os micro como ferro, cobre e manganês ou ainda pode indisponibilizar o fósforo, sendo prejudicial às plantas.

A mensuração em que o pH do solo irá tamponar e a quantidade de calcário a ser aplicada para romper esse tamponamento é extremamente complexa, pois existem muitas variáveis que interferem nessa conta. Citamos anteriormente que a física, a química e a biologia do solo interferem nesse processo. A exemplo disto, as substancias anfóteras merecem notoriedade.

São substâncias que possuem a capacidade de reagir tanto como ácidos quanto como bases, dependendo do meio em que estão inseridas. Essa característica ocorre porque essas substâncias podem doar e também aceitar prótons (H+) ou reagir tanto com íons hidrogênio quanto com íons hidroxila.

O gráfico a seguir demonstra essa limitação em um solo de textura média:

 

Gráfico 1: adaptado de Maraschin, 2020

 

Podemos observar o pH inicial está em torno de 4 e foram aplicadas 2,5 t/ha de calcário PRNT 100, atingindo pH 5,5. Sendo assim, 1,25 toneladas por ponto de pH. Para sair de 5,5 e atingir pH 6,5, foram aplicadas 7,5 t/ha, logo, 5 toneladas por ponto de pH.  Nesse solo em especifico, o poder tampão ficou em torno de 6,5, pois foi necessária uma dose de 20 t/ha para mudar meio ponto de pH e atingir pH 7. Tornando o processo oneroso e ineficiente. 

Por isso, em casos como esses, onde são necessárias altas doses de calcário, a Ferticorreção indica a utilização dos óxidos de cálcio e magnésio (base forte), tendo em vista que a capacidade de romper o poder tampão do solo, com os óxidos, é superior.  Aliado ao fato que, diferentemente do calcário, os óxidos não precisam de acidez para reagir.  Sendo necessárias doses menores para realizar o controle de acidez do solo. Outro fato que merece destaque é que, alguns óxidos, não necessitam de incorporação, logo, são uma opção para o manejo de áreas com o plantio direto consolidado.

Vale destacar que, em áreas de abertura, a utilização dos óxidos pode ser uma opção, porém, agronomicamente e, principalmente, economicamente, o calcário mereça lugar de destaque. O ponto chave é: chega um momento que o calcário não irá mais reagir, sendo necessárias doses elevadas que podem ser prejudiciais ao solo. A utilização dos óxidos vem como uma ferramenta para o controle da acidez, com doses menores e mais eficientes. Tendo em vista as diferenças químicas entre óxidos e carbonatos ainda é um pouco desconhecida, mostramos nessa tabela pontos importantes na diferença entre os dois:

Tabela 1: diferença entre carbonatos e óxidos.

 Carbonatos Óxidos 
Fórmula CaCO3 e MgCO3CaO e MgO
Tamponamento do pH em águaEm torno de 5,5

>9

Reatividade                 LentaImediata
Concentração Ca e MgBaixaAlta 
CustoBaixo Médio/alto
DoseAlta Baixa 

Fonte: o autor

 

O fato das concentrações de cálcio e magnésio dos óxidos serem altas, a aplicação, mesmo em doses baixas, serve também como nutrição. A rápida disponibilidade dos nutrientes faz com que as demandas sejam atendidas de forma eficiente. 

Sendo assim, a Ferticorreção busca que a acidez do solo seja controlada, não corrigida. Após a abertura de área e o alcance dos teores mínimos de pH e nutrientes forem alcançados, deve-se trabalhar pensando na acidez que será gerada no próximo ciclo. Logo, temos um controle da acidez e não uma correção, pois não deixamos chegar ao ponto de erro para corrigirmos.

Essa abordagem representa um manejo inteligente que integra os princípios da agricultura moderna, regenerativa e sustentável, proporcionando ao produtor rural uma lavoura altamente produtiva, econômica e rentável. Desta maneira, os óxidos e o calcário, estão a disposição do agricultor. Cabe a cada um fazer a escolha consciente de acordo com a sua necessidade e realidade. A Ferticorreção visa o controle a acidez do solo e realiza a nutrição das plantas de forma eficaz, criando um ambiente que oferece as condições necessárias para o aumento da produtividade. 

Não existe uma regra, não existe uma “receita de bolo”, cada manejo deve ser aliado com a realidade e a ciência. É de suma importância conhecer o histórico da área, coletar analises de solo, saber a textura do solo, dente outras práticas,  e entender que tudo está interligado. A Ferticorreção está a disposição do agricultor para mostrar, através da ciência, como estas ligações estão correlacionadas e como podem ser tratadas.

 

RESUMO

A acidez é uma característica intrínseca aos solos brasileiros, causada pela presença de íons H+ e Al3+, associada à baixa disponibilidade de bases trocáveis. Essa condição compromete o crescimento das plantas, reduz a eficiência de adubação, como é o caso do fósforo, e limita a produtividade agrícola. Para correção da acidez, o calcário (carbonato) é amplamente utilizado por ser um insumo de baixo custo e tradicional na agricultura, liberando hidroxilas (OH-) que neutralizam a acidez. Contudo, o solo possui poder tampão, ou seja, resistência às mudanças de pH, exigindo doses cada vez maiores de corretivos, tornando o processo ineficiente em algumas situações.

Nesses cenários, o uso de óxidos de cálcio e magnésio, bases fortes de alta reatividade e concentração, mostra-se uma alternativa mais eficiente. Os óxidos não precisam da presença de acidez para reagirem, demandam doses menores e podem ser aplicados sem incorporação, atendendo inclusive ao plantio direto. Porém, em áreas de abertura agrícola, o calcário ainda é a opção mais econômica. A escolha entre carbonatos e óxidos deve considerar as características específicas de cada solo, suas limitações e o custo-benefício, sempre com orientação técnica especializada. A Ferticorreção propõe essa abordagem como parte de um manejo integrado, eficiente e sustentável, com foco no aumento da produtividade e na saúde do solo.

 

 

REFERÊNCIAS

NAHASS. S. SEVERIMO. J. Calcário agrícola no Brasil.  Rio de Janeiro: CETEM/MCT, 2003.

MALAVOLTA, E. Manual de nutrição mineral de plantas. Piracicaba: Ceres, 2006. 638 p.

NATALE, W. et al. Acidez do solo e calagem em pomares de frutíferas tropicais. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 34, n. 4, p. 1294-1306, 2012.

PRIMAVESI, A. C. Características de corretivos agrícolas. São Carlos: Embrapa Pecuária Sudeste, 2004. 28p.; 21 cm. -- (Embrapa Pecuária Sudeste. Documentos, 37).

ZAMBROSI, F. C. B.; ALLEONI, L. R. F.; CAIRES, E. F. Aplicação de gesso agrícola e especiação iônica da solução de um Latossolo sob sistema plantio direto. Ciência Rural, v. 37, p. 110-117, 2007.

 

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